Alívio da fome

Um ano depois, a batalha mais difícil do Brasil

Durante a última semana de maio de 2021, o número de mortes por COVID-19 no Brasil ultrapassou 450.000. As taxas de infecção continuam a aumentar, com uma média de 66.000 casos por dia, elevando o total nacional para 16,2 milhões – o terceiro mais elevado do mundo.

Com os seus sistemas de saúde e de segurança social levados ao limite, o Brasil está a sofrer os piores dias desde o início da pandemia.

“Isso é algo que eu nunca poderia imaginar e muito menos vivenciar”, compartilha Ana Cristina Corrêa Guedes Barros, Subgerente do Departamento Nacional do Sesc, que tutela Mesa Brasil Sesc, uma rede nacional de 91 bancos de alimentos em 27 estados brasileiros. “O impacto no Brasil é devastador, especialmente quando afeta pessoas que estão na vanguarda do trabalho social, atendendo pessoas em condições e comunidades vulneráveis.”

Formado em 2003, o Mesa Brasil Sesc é banco de alimentos membro da The Global FoodBanking Network (GFN) desde 2013. Em 2019, o Mesa Brasil Sesc atendeu 1,4 milhão de crianças e famílias em todo o país por meio de mais de 6.000 organizações beneficiárias, como creches, instituições de permanência para idosos, albergues, centros comunitários e outros.

Mas embora o Brasil tenha feito progressos notáveis no sentido de acabar com a fome – nomeadamente o país foi removido do Mapa Mundial da Fome da ONU em 2014 – a COVID-19 teve um impacto dramático nestes esforços.

“Muitas organizações com as quais trabalhávamos anteriormente não conseguiam funcionar”, partilhou Ana. “Nossa própria equipe teve que interromper as operações por um período de tempo. Desde maio, tivemos que alterar a nossa estratégia de distribuição para enfrentar os novos desafios e o aumento da procura, ao mesmo tempo que recuperávamos a nossa capacidade, um passo de cada vez. Felizmente, a GFN tornou nosso retorno possível.”

Através do apoio financeiro da GFN e de outros parceiros, o Mesa Brasil Sesc investiu $758.500 USD na compra de mais de 70 mil cestas básicas. Por meio de uma rede de distribuição reinventada, o Mesa Brasil Sesc distribuiu essas cestas – cada uma contendo 14,6 quilos de alimentos, suficientes para uma família de quatro pessoas durante quatro semanas, além de itens de higiene e limpeza – por meio de 680 organizações beneficiárias em 19 estados gravemente afetados. A concepção, execução e manutenção desta estratégia também foram apoiadas pela GFN, através de uma série de ferramentas de gestão, formações, webinars e coaching de assistência técnica.

 

“É graças à GFN que conseguimos entregar alimentos diretamente nas mãos de quem precisa. Lembro-me de chegar na periferia de uma pequena cidade onde um representante de uma agência parceira nos levou para entregar uma cesta básica para uma família de cinco pessoas. Eles não comiam nada há um dia e chegamos antes do almoço. Nossa equipe ficou incrivelmente emocionada com o quão grata esta família ficou por receber nosso apoio.”

Como resultado dessas inovações, o Mesa Brasil Sesc conseguiu atender aproximadamente 3,4 milhões de pessoas em 2020, um aumento de 150% em relação a 2019. Mas com as taxas de infecção continuando a aumentar em meio a sistemas sociais fortemente tensos, os desafios permanecem para as populações mais vulneráveis do Brasil.

“Um ano depois, ainda estamos na fase de emergência desta crise, sem uma perspectiva clara de quando voltaremos a uma ‘nova normalidade’. Muitas das estratégias que adotamos, como entrega de cestas básicas, cartões alimentação e refeições prontas às famílias, ainda estão dando bons resultados e precisarão ser continuadas bem depois desta fase de crise”, explica Ana.

Com planos de capitalizar o apoio de uma ampla variedade de parceiros – de indivíduos a empresas, prestadores de serviços de emergência a artistas e organizadores de arrecadação de fundos, o Mesa Brasil Sesc continuará a desbloquear recursos e a causar impacto diretamente onde for necessário.

“Pretendemos ampliar nossa rede de parceiros e abrir novas frentes de atuação para promover o acesso à alimentação adequada e saudável para milhões de brasileiros necessitados”, explica Ana.

“Nosso país é muito rico em belezas naturais e nossa cultura é alegre, hospitaleira e solidária. Mas nossa atitude também é guerreira e – um dia – sonhamos em ser conhecidos por vencer a fome no Brasil. Juntos nós podemos."

Esta postagem apareceu originalmente em https://powering.foodbanking.org/.

 

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